sexta-feira, janeiro 16, 2009

Abalos no emprego

14/01/2009
Com crédito ainda caro e escasso, resfriamento da economia prenuncia impacto relevante no mercado de trabalho

A DETERIORAÇÃO das perspectivas de crescimento global, a continuidade das perdas nas operações de crédito e a desvalorização dos ativos financeiros e imobiliários dificultam a retomada dos empréstimos no mundo todo. Os custos de captação de dinheiro de grandes instituições financeiras continuam proibitivos. Algumas só obtêm recursos com o apoio dos governos.Nesse contexto, bancos internacionais voltaram a ofertar linhas de crédito às exportações brasileiras, consideradas de baixo risco. Porém as taxas de juros dobraram, e os prazos encolheram. Se empresas grandes têm sofrido com o estrangulamento de crédito, que dirá as companhias de médio porte que operam no mercado internacional.O Banco Central fez leilões de linhas externas com lastro em Adiantamentos de Contrato de Câmbio. Ofereceu US$ 7,6 bilhões para apoiar as atividades exportadoras, durante os últimos meses de 2008. Novas operações do Banco Central são necessárias, sobretudo para auxiliar na formação das taxas de juros e nos prazos das operações.No âmbito interno, a crise também se agrava, o que vai descortinando uma nova etapa para as políticas antirrecessivas. O emprego na indústria caiu 0,6% em novembro, na comparação com o mês anterior, que já havia registrado baixa (0,2%), de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).A despeito de relativamente modesta, a queda no emprego tende a se agravar. Em geral, há uma defasagem entre o comportamento do mercado de trabalho e a evolução da atividade produtiva. Ou seja, o desalento nas linhas de montagem vai demorar algum tempo para refletir-se completamente no emprego.Nos meses de outubro e novembro, a produção industrial caiu quase 8%, mas o volume de emprego industrial recuou 0,8%. Cautelosas, as empresas primeiro deram férias coletivas a seus funcionários, mas agora algumas já começam a demitir.Infelizmente, portanto, é de esperar aumento no desemprego nos próximos meses -razão suficiente para elaborar e implementar, já, medidas que inibam seus efeitos nocivos.Uma opção é ampliar o prazo de pagamento do seguro-desemprego, embora a medida abranja apenas o setor formal. Atualmente, o beneficiário pode receber no máximo cinco parcelas. A desoneração tributária sobre a folha de pagamentos também estimularia a manutenção de postos de trabalho neste ambiente.Seria importante, de outro lado, promover reduções expressivas nos juros básicos e, sobretudo, nas taxas cobradas ao tomador final. Os grandes bancos aumentaram suas margens nos empréstimos durante a crise; inclusive os estatais, que, até para justificar sua razão de existir, deveriam fazer o contrário.
Folha de S. Paulo

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