sexta-feira, novembro 27, 2009

Violência política culmina em banho de sangue

Assassínio de 46 pessoas envolveu partidários de duas famílias que já foram aliadas. Presidente Arroyo decretou estado de emergência em Mindanau. Foram suspensos quatro dirigentes policiais na ilha

Quase meia centena de mulheres e homens foram decapitados ou abatidos a tiro naquela que foi já classificada como uma das mais sanguinárias acções de intimidação política na história das Filipinas.
O massacre sucedeu no início da semana na ilha de Mindanau, a poucos quilómetros da capital da província de Maguindanau, Ampatuan, quando um grupo de familiares e apoiantes de Ismael Mangudadatu - candidato a governador daquela província nas eleições de 2010 - foi interceptado por perto de cem indivíduos armados.
O grupo, que ia registar a candidatura de Mangudadatu, viu os seus elementos forçadas a saírem dos veículos, tendo sido levados para o mato adjacente à estrada. Aqui foram massacrados a golpes de machado e catana, apresentando alguns corpos sinais de balas.
Algumas das mulheres foram violadas em vida; posteriormente, todos foram enterrados em valas comuns. Estas foram descobertas durante o dia de ontem. Entre os mortos contam-se 12 jornalistas.
O Centro Filipino de Jornalismo de Investigação, citado pelas agências, referia o sucedido como o maior massacre em período eleitoral. Nas eleições de 2007 perderam a vida 126 candidatos e seus apoiantes no total.
Os alegados responsáveis serão elementos ligados à família rival dos Mangudadatu, os Ampatuan, que apresenta também um dos seus elementos às eleições para Maguindanau.
A família Ampatuan é considerada uma das dinastias políticas mais influentes em Mindanau e aliada da Presidente Gloria Arroyo. Esta ganhou as presidenciais de 2004 em Maguindanau com perto de 100% dos votos escrutinados nos bastiões dos Ampatuan, sob alegação de fraude.
Esta família, muçulmanos num país de esmagadora maioria cristã, tem ganho todas as eleições para governador da província nas últimas décadas, sendo o cargo desempenhado actualmente põr Datu Zaldy, pai de Andal Ampatuan Jr., que se apresenta agora a votos.
A família é conhecida, segundo comentários nos media filipinos em língua inglesa, por fortes ligações ao meio militar. O que é duplamente relevante: primeiro, pelo papel central das forças armadas na vida política do arquipélago; segundo, pela sua importante presença numa ilha fortemente militarizada, devido à ameaça secessionista de grupos muçulmanos e ao terrorismo islamita (ver caixa).
A Presidente Arroyo decretou o estado de emergência em Maguindanau e regiões adjacentes no centro de Mindanau, tendo sido mobilizados mais de mil militares para controlo das estradas e acessos às localidades. Um porta-voz da direcção nacional da polícia, Leonardo Espina, garantiu que "não haverá vacas sagradas" para a investigação, numa referência óbvia aos aliados de Arroyo. Entretanto, foram suspensos quatro dos principais responsáveis policiais da província por alegado envolvimento no crime. Os media filipinos escreviam que os quatro oficiais foram vistos nas proximidades do local onde as 46 pessoas foram mortas.
Ismael Mangudadatu, que perdeu a mulher e outros familiares no ataque, lidera hoje uma família que, durante décadas, foi uma importante aliada dos Ampatuan, antes de se converterem em rivais. Uma cultura de violência e o facto dos grandes clãs filipinos manterem milícias privadas ajuda a explicar, parcialmente, a brutalidade do crime contra os apoiantes de Mangudadatu.
DN Globo / por ABEL COELHO DE MORAIS

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