quarta-feira, janeiro 14, 2009

Uruguai enfrenta seca e temporada de incêndios

13/01/2009
A coluna de fumaça negra erguia-se espessa sobre os campos de Pajas Blanca, balneário na periferia de Montevidéu, denunciando um dos dezenas de incêndios diários que o Uruguai enfrenta em seu verão mais seco das últimas décadas. O presidente Tabaré Vázquez declarou nesta segunda-feira, dia 12, estado de emergência agropecuária, admitindo que a situação é mais grave do que seu governo vinha sustentando.

A reação ocorreu após diversos setores e governadores do país criticarem Montevidéu por omissão e ausência de um plano agressivo no combate à seca. Carlos Arrilaga, representante da Associação Nacional dos Produtores de Leite, avaliou que "o produtor não pode ter que bater de porta em porta em busca de dinheiro para alimentar suas vacas". Sobre a proposta anterior, Arrilaga afirmou que "um plano de emergência de US$ 1 milhão é irrisório".O incêndio mais recente aconteceu em 8 de janeiro, 15 dias após o anterior. No momento em que a reportagem do UOL chegou ao local, dezenas de moradores auxiliavam os três bombeiros que combatiam o fogo. Separados das chamas por 200 metros de ressecados eucaliptos, diversos moradores do local retiravam às pressas o que pudessem carregar do jardim de infância da escola Austrália. Narda Ramos, secretária da instituição, apontou a gravidade da situação enquanto carregava para outro prédio um número enorme de almofadas infantis: "não temos corta fogo, a fazenda de eucaliptos vem da praia até nosso quintal. Estamos correndo para salvar o que der".O cenário mais próximo ao fogo era composto por meninos carregando baldes em campos carbonizados, mulheres lutando com ramos de árvore contra brasas escondidas e homens enfrentando chamas vivas protegidos por camisetas amarradas em seus rostos. Por todos os lados, montes de folhas secas de eucalipto deixavam claro que qualquer alteração no vento causaria novos focos de incêndio. Focos de fumaça brotavam em campos onde o fogo aparentemente havia sido controlado, denunciando brasas escondidas e troncos incandescentes."Que bom que não temos pinheiros por aqui", disse o aposentado Hugo Fraga, 68 anos. Veterano de mais de 20 incêndios na região, Fraga auxiliava os bombeiros com a mangueira enquanto explicava as propriedades de queima das árvores: "o eucalipto é melhor porque seu tronco não queima, só as folhas secas espalhadas pelo chão. O pinheiro tem resina, combustível, e as pinhas estouram para voar 20, 30 metros, começando novos focos. Então, que bom que não temos pinheiros por aqui".O fogo começou por volta das 8h nos limites entre a fazenda de eucaliptos e a praia e só foi controlado quando o sobrecarregado corpo de bombeiros uruguaio enviou mais 15 homens para o local, por volta das 14h. Dos 15 hectares da propriedade, 10 foram queimados. O comandante da operação, cabo Carlos Santos, informou que apenas o Departamento de Cerro, ao qual pertence, enfrenta 10 ou 15 focos por dia e não é o único departamento de Montevidéu. Por todo o país os incêndios se multiplicam, assim como os prejuízos dos produtores de gado e leite, atividades fundamentais da economia uruguaia.Terminado o incêndio de Plajas Blanca, a água assumiu nova atividade urgente e passou a refrescar nucas de bombeiros, moradores e repórteres que acompanharam aquele incêndio. Os finos troncos chamuscados pareciam nus, solitários entre cinza, lama, montes fumacentos e homens cobertos de fuligem. Entre as árvores ficou apenas um leve perfume, misto de eucalipto e carbono.
Breno Castro Alves Especial para o UOL Notícias Em Montevidéu (Uruguai)

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