quarta-feira, setembro 30, 2009

Cooptação e mortes lentas

O filme O Jardineiro Fiel , dirigido pelo brasileiro Fernando Meirelles, levou ao cinema o tema dos testes clandestinos de medicamentos realizados pelos laboratórios farmacêuticos nas regiões mais pobres da África.

O enredo conta a história da esposa de um funcionário do alto comissariado britânico assassinada após descobrir o envolvimento do governo inglês e donos de laboratórios nas mortes de quenianos feitos de cobaia humana para um novo remédio contra a tuberculose. No filme, diplomatas e empresários “previam” para breve uma nova epidemia da doença.
Não se trata de ficção. A própria Gilead, de Donald Rumsfeld, financiada pelo governo dos Estados Unidos e pela Fundação Bill e Melinda Gates, era a responsável por testes na Nigéria, em Camarões e no Camboja com um medicamento para tratamento da AIDS.
Estes testes foram suspensos após pressões populares com força suficiente para resistir à mutilação do organismo de sua própria população. Oficialmente, foram suspensos por causa de “problemas éticos graves”. Problemas que não parecem existir em países como Tailândia, Botsuana e Malásia, onde os testes continuam a todo vapor, e nada ficam devendo aos trabalhos do famoso médico nazista Josef Mengele, que torturou e matou um sem número de pessoas em nome da ciência nazista.
Os bastidores da indústria farmacêutica revelam muito mais do que bilhões de dólares gastos anualmente com publicidade direta ao consumidor — não raro tentando vender pela TV remédios para doenças como o câncer —, revelam que o tráfico de influência vai além do aliciamento de médicos, pesquisadores e estudantes de medicina em todo o mundo, que muitas vezes se convertem em meros vendedores intermediários de drogas industrializadas, num esforço empresarial para transformar consultórios e hospitais em lojas com consultas rápidas e receitas extensas.
A biografia fármaco-imperialista de Donald Rumsfeld demonstra que o domínio dos interesses empresariais dos grandes laboratórios sobre a saúde pública mundial está longe de ser coisa de cinema ou teoria da conspiração. As populações da África continuam sucumbindo à Malária, AIDS, e tuberculose, enquanto a ONU e a OMS continuam comprando remédios de farmacêuticas que não estão interessadas em erradicação, mas em genocídios lentos, graduais e lucrativos.
O Rebate/Transcrito
Hugo RC Souza /Publicado originalmente no jornal A Nova Democracia

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